E agora, quem poderá nos defender?

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019
Desperta, abre os olhos, mais cinco minutos, fecha os olhos, cinco minutos depois, levanta com um suspiro profundo, caminha até o banheiro, higiene, lava as mãos, café, pães, mais café, banho, se arruma, e vai trabalhar, 8 horas, chega em casa, suspira, toma um banho, miojo, sofá, TV, escova os
dentes, cama. Desperta, abre os olhos...
O que há além? O cotidiano nos consome um tempo precioso, tempo este gasto em sua maioria em atividades automáticas que já nem geram prazer, estão simplesmente acontecendo. O ponto é: o que somos além disso? O que seríamos, se não estivéssemos tão cansados no fim de semana, que só pensamos em Netflix, e não naquilo que pensávamos há dez anos atrás? Com o que gastaríamos o nosso tempo? Precisamos mesmo fazer do nosso cotidiano, um cotidiano sem prazer?
É um fato da vida adulta que adentramos a fase da água do Mario, com mais barreiras do que facilidades, obrigações, regras, inúmeros peixes querendo comer nossa pele. Por que então insistir manter-se em atividades que não queres fazer, quando podes escolher o que fazer? O fato é que estamos em uma geração de zona de conforto: se trabalho em uma empresa na qual ganho um bom salário, mesmo não amando o meu trabalho, por que largaria o mesmo, e sairia afetada?

A resposta pra isso está bem à nossa frente: por que você coloca tudo na frente de sua saúde emocional? Claro, precisamos de dinheiro em nosso cotidiano, afinal, ainda não vivemos em uma distopia (ainda!), mas esse dinheiro vale a pena, se não é garantido por algo que gostamos? Prova disso, é que existem pessoas que quanto mais ganham, mais gastam, diferente de quando se ama o emprego, sabe exatamente de onde vem aquele dinheiro e em quais sonhos e objetivos investir (você pode gastar, desde que gaste com aquilo que você quer, e não algo pra compensar um vazio).
Não precisamos viver em uma floresta pra viver a vida que queremos viver, podemos viver da forma como queremos viver. E não é impossível viver uma vida que não se quer viver, mas nem toda possibilidade tem o intuito de nos fazer feliz. 

Você quer brincar na neve, Charlie Brown?

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
É uma verdade incontestável que o Natal desperta o lado mais infantil que mantemos reservado durante todo o resto do ano, é a época na qual nos permitimos acreditar em magia e que Papai Noel existe, em prol de mantermos vivo o espírito encantador que cada um de nós perpetuamos – mesmo inconscientemente, afinal, quem diz que não gosta de Natal, já está no clima natalino a partir do momento em que fala “irei à festa somente pra ser educado”.
Comemos, brincamos, rimos, e temos um lembrete gigantesco de que logo o próximo ano chega e com ele a oportunidade de novos planos e realizações. O Natal é o período no qual nós, com nossos 30 anos nas costas, nos permitimos chorar com filmes infantis que passam uma bela mensagem, e repetimos tradições que muitas vezes nem notamos que são tradições, tais como amigo oculto, uva passa na comida, MUITA COMIDA, a troca de presentes, ouvir a piada do “pavê ou pacomê” sem fingir que é sem graça, etc.
Como de costume, em todos os Natais eu assisto aos filmes e episódios de Natal da turminha do meu amado Minduim – e ainda tenho a esperança de um dia acompanhá-lo na leitura de Guerra e Paz no Ano Novo –, pois eu noto que Peanuts tem o poder de falar sobre qualquer tema, e nesse caso, um tema feliz, alegre e repetitivo, de uma forma extremamente reflexiva e que nos permite elaborar que o Natal é sobre estar com as pessoas que você ama, fazendo as coisas que você ama, nunca se esquecendo do real motivo desse dia existir.
Portanto, você ser cristão e comemorar o Natal é importante por estar seguindo um preceito religioso e de respeito, mas se você não é, é tão importante quanto, pois Natal simboliza, antes de qualquer outra coisa, nascimento, vida, novo, novas chances e possibilidades. Então faça desse o melhor Natal da sua vida, aproveite com quem você ama, afaste-se de quem lhe faz mal, e seja feliz!


Afinal, qual é a função do crescer?

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Há algum tempo tenho notado uma postura um tanto quanto negativa nas redes sociais acerca do crescer. Em parte, sei que isto tem estado mais recente porque cresci, logo, o grupo no qual comumente me inseria também cresceu, e com ele vieram dois extremos: o primeiro extremo da “pseudo-liberdade” que o homem pensa ter na vida adulta, e o outro extremo é de que crescer é uma droga, contas, boletos, responsabilidades. Mas afinal, o que é o crescer? Estou certa de que por mais jovem que eu ainda seja, a resposta pra essa pergunta não esteja nesses extremos, e sim no meio, pois afinal, a vida nunca deve ser mensurada por extremos, pois eles nos pendem tanto pra um lado que nos impede de simplesmente nos permitirmos visualizar o outro lado. Pois bem, dito isso e compreendido que a resposta esteja no meio, o que é, afinal, esse meio? O compreender que a vida adulta tem uma parcela de liberdade, mas também de responsabilidades.
O ponto é que quando somos crianças – e até mesmo adolescentes, se posso dizer – temos responsáveis [legais e emocionais], então temos quem resolva por nós. Claro, já lidamos com pequenas grandes responsabilidade, tais como estudar, pesquisar sobre o vestibular, procurar por empregos, arrumar o nosso quarto, etc. Porém, nada sai do lugar se não fizermos, pois ainda assim temos esses responsáveis, alguém pra nos lembrar de que precisamos fazer essas coisas, alguém que nos ajudará nesse processo de amadurecimento.
Crescer é, antes de tudo, compreender que agora nós somos nossos próprios responsáveis [legais e emocionais], então é como nascer novamente, mas ser jogado diretamente nesse imensurável mundo de responsabilidades. O ponto é o que fazemos disso. Ou nos queixamos pelos problemas, e isso gera grandes frustrações, afinal, nem tudo está em nossas mãos, ou agarramos a oportunidade de sermos nossos próprios “solucionadores de problemas”. Que não vejamos a vida como extremamente positiva e nem extremamente negativa, a graça dela está em cair, ralar o joelho, passar um merthiolate ardido, levantar e falar a si mesmo “desta vez farei diferente, ou ao menos tentarei”.

Sobre Tarkovsky e Stalker:

segunda-feira, 7 de maio de 2018
Tarkosvky é um caminho sem volta: uma vez que o conhece, você se depara com as mais diversas dualidades e complexidades, mas também simplicidades caracterizações da vida humana. Assistir a um de seus filmes é adentrar um oceano de sentimentos que fazem refletir acerca da arte, do sofrimento, da inocência e da dor. Na primeira vez em que assisti Stalker (1979) soube que aquele era o meu filme favorito, um filme que mudaria a minha vida. Temos aqui a história de uma suposta queda de meteoritos em uma região que adquire propriedades incomuns, região esta chamada de Zona. Dentro da Zona, alega-se ter um lugar chamado de Quarto, lugar este no qual todos os desejos do ser humano podem ser alcançados e realizados. Não era incomum que o medo do exército fosse justamente o de a população invadir o Quarto, afinal, seria ali que seus maiores sonhos pudessem vir à tona, levando o exército a isolar o local. Contudo, por ser um lugar sagrado, o Quarto não permite a entrada de qualquer um, e requer uma extrema sensibilidade para adentrar, requer ser o que a população chama de Stalker. Caso uma pessoa que não fosse um Stalker entrasse, poderia não sobreviver no local. Certo dia, um famoso escritor e um físico contratam um Stalker para os guiarem até o Quarto, sem saber o que procuram, iniciando assim uma jornada de extremo conhecimento e fé.
Esse filme se mostra extremamente cheio e rico de detalhes. Algo que me chamou a atenção, dentro da parte técnica, foi a fotografia e os cenários. Passam um misto de lentidão, calma, e até mesmo melancolia, melancolia esta que faz refletir sobre os objetivos da vida. Na verdade, os cenários foram totalmente apaixonantes pra mim, ao mesmo tempo que passavam serenidade, mostravam-se ricos e fortes.
"Quando o homem nasce, é fraco e flexível, quando morre, é impassível e duro. Quando uma árvore cresce, é tenra e flexível, quando se torna seca e dura, ela morre. A dureza e a força são atributos da morte. Flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser. Por isso, quem endurece nunca vencerá."
Acredito que o impasse seja justamente o sentido da vida, onde há essa busca incansável pelo palpável, mas pela esperança também, e o mais é legal é a forma como os diálogos vão se construindo, como no trecho acima. Parece-me que os personagens falam “sem pensar”, porque há muito o que pensar, refletir, e é complexo como a expressão acerca do sentimento vem como algo inesperado.

Tem-se a busca pela fé, fé esta que nem mesmo nossos três protagonistas sabem como se constrói, e só passam a ter consciência da mesma nos minutos finais, minutos estes que não respondem todas as nossas dúvidas, porém inquietam muitas outras.

O deleite em ser solitário

segunda-feira, 18 de setembro de 2017
Não os histéricos, tampouco os efusivos; os personagens que sempre ganharam minha preferência foram os solitários: não pela intensa vontade e calmaria em estarem sozinhos, mas porque eu sempre achei que as pessoas solitárias observavam o mundo de uma maneira diferente. Primeiramente, os solitários não se importam em serem assim. Na verdade, é quase uma bênção. Isto porque ser solitário significa estar em diálogo constante consigo mesmo: às vezes o caos pode surgir, mas é por ser solitário que esse sujeito consegue administrar – lentamente – seu próprio caos.Os solitários observam o mundo de maneira diferente: sempre conseguem imaginar a vida de um sujeito qualquer que passa ao seu lado na rua, acham excepcional quando a folha cai da árvore em movimentos circulares, consideram uma dádiva encontrarem personagens literários e cinematográficos que se pareçam com eles. E quando encontram alguém tão solitário quanto eles? Felicidade define. Aquela pessoa que gosta de The Smiths, Slowdive, que assiste filmes franceses e vê o mundo da maneira como você vê. Aquela pessoa cuja banda favorita é The Velvet Underground e sabe que o som é muito melhor em vinil. São raras as ocasiões em que isso acontece, mas existem. E a felicidade realmente define esses momentos.
Sim, felicidade. Ser solitário não significa ser infeliz. “Somos muito bem felizes, obrigada”. As pessoas acham que a solidão se resume em perca de sentido, mas a solidão encontra o sentido: ser solitário é estar em um quarto sozinho e sentir-se extremamente confortável. Ser solitário é achar algum objeto e ver beleza nele. É observar botões, saias, tulipas, o céu e domingos. É observar seus personagens e imaginar como ele lidaria com os dilemas de sua vida. É enfeitar-se com o deleite e a delícia de ser quem você é. E nada mais.
Ser solitário é saber que você é especial. Não, você é mais do que especial: você é excepcional. É saber que é único e tem uma personalidade incrível. É conseguir falar com profundo sentimento sobre seu autor favorito e calar-se pra ouvir quando o outro fala. É conseguir aproveitar cada momento, e fazer de cada detalhe e coisinha pequena um grande evento a se comemorar. Não somos os “mais descolados”, não saímos para os mesmos lugares que as outras pessoas de nossa idade saem e nem gostamos das mesmas músicas. Mas ainda assim somos especiais. Todos fazemos parte do Clube dos Cinco dos Solitários.

"Peanuts" também é coisa de gente adulta!

domingo, 10 de setembro de 2017
Desde que me conheço por gente assisto Peanuts – e posteriormente comecei a ler as tirinhas, claro –, e hoje percebo o quanto isso faz parte de mim. Pois bem, deixe-me explicar: sempre me identifiquei com o jeitinho tímido do Charlie Brown, e claro que ter um Snoopy era prioridade de vida. Foi algo que fez parte direta de minha infância – “O Natal do Charlie Brown” é um daqueles filmes que assisti incontáveis vezes e continuo a assistir depois de adulta. Sempre achei interessante o fascínio e amor que temos, mesmo depois de adultos, por filmes e livros de nossa infância, e acho que demandou tempo para eu começar a entender isso.
O fato é que esses livros, filmes, desenhos e tirinhas são clássicos (se tu for pela concepção de clássico como aquilo que vai além de seu tempo, e faz sentido mesmo décadas após seu lançamento), e esses livros, filmes, desenhos e tirinhas que assístiamos/líamos quando crianças fazem mais sentido ainda quando somos adultos. Quantas vezes eu revi o mesmo episódio de Chaves depois de adulta e pensei “uau, olha a piada que eles fazem, nenhuma criança entende isso”?! E é exatamente isso que acontece com Peanuts: com temas infantis, os personagens conseguem fazer analogias que às vezes farão sentido para crianças, e outrora demanda que você seja adulto pra entender.

E como entendemos! Peanuts fala muito bem sobre as grandes dificuldades em ser humano. Ainda mais quando se é adulto, hum?





William Blake e Dante Alighieri no Céu e no Inferno

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Willam Blake é um dos meus poetas favoritos: não apenas pela escrita impecável, mas também pelos temas recorrentes que aborda em suas poesias. Dentre esses temas, o Céu e o Inferno ganham destaque, em especial por conta de sua obra chamada “O Casamento do Céu e do Inferno”, publicada pela primeira vez em 1790. Foi um escritor, pintor e místico impecável em seus feitos. Curiosamente, outro autor que sempre chamou minha atenção é Dante Alighieri, que escreveu o poema épico “A Divina Comédia”, escrito por volta de 1304 à 1321, poema este que relata a história de Dante e Virgílio na trajetória de 3 locais específicos em seus percursos: Inferno, Purgatório e Paraíso. Pois bem, como esses dois autores se “encontram”? Em 1826, Blake, então com 65 anos de idade, recebeu sua última encomenda de trabalho: ilustrar justamente A Divina Comédia. Apesar de ter falecido antes de concluir todas as ilustrações, deixou-nos com 102 telas e ilustrações sobre a obra.